Pais helicópteros, crianças vigiadas

helicopter02Pais helicópteros é um termo dado a pais superprotetores e controladores. A designação apareceu em 1969 no livro “Between Parent and Teenager”, de Haim Ginott. Em 2000 popularizou-se nos Estados Unidos, sendo muito utilizada por administradores de escolas e pessoas ligadas ao ensino.

Quem trabalha com a clínica em saúde mental sabe, pela experiência ou pela teoria, que pais controladores podem fazer mal aos seus filhos. E recentemente a questão chegou também às pesquisas quantitativas.

Estudos mostram que pais excessivamente envolvidos nas vidas dos filhos podem gerar graus de ansiedade e depressão na criança, assim como induzir-lhes menor capacidade de perseverança. Crianças superprotegidas também tendem a se sentir menos competentes e menos aptas a lidar com a vida e seus estressores. Por outro lado, outras pesquisas no campo do desenvolvimento infantil mostram que mães muito participativas estão relacionadas a um desempenho acadêmico, emocional e social melhor.

Diante da discordância dos resultados, procurou-se entender como a superproteção ou o envolvimento excessivo dos pais poderia fazer mal aos filhos. De acordo com a teoria da autodeterminação, há três necessidades essenciais para o desenvolvimento e funcionamento saudável de um ser humano. A primeira e mais importante é a necessidade de autonomia, de se sentir livre para fazer as próprias escolhas. O segundo componente é a competência, sentir-se confiante com relação às suas habilidades e realizações. O terceiro elemento é o de pertencimento, o de se sentir parte de uma relação genuinamente afetiva.

Como o excesso de envolvimento pode atrapalhar a criança? Pesquisa realizada com 297 estudantes universitários mostrou que quando a presença excessiva dos pais na vida dos filhos envolve controle psicológico o resultado é negativo. Ou seja, a participação intensa na vida dos filhos pode ter bons resultados; mas quando esta presença envolve controle psicológico, surgem consequências ruins como depressão, ansiedade, insegurança e falta de proatividade. O controle psicológico mina a autonomia, atrapalha o sentimento de competência do indivíduo, e enfraquece uma relação afetiva genuína entre pais e filhos.

 

A vida nas grandes cidades e as tecnologias, pondo cada vez mais à disposição uma quantidade crescente de informação às crianças, nos impõem a dura (e necessária) tarefa do controle sobre o comportamento de nossos filhos. O que estão vendo no tablet, o que estão acessando no smartphone, o que estão assistindo na televisão, se não estão falando com pessoas mal-intencionadas nas redes sociais. Não obstante, pais devem também fazer o delicado exercício de absterem-se de controlar psicologicamente seus filhos. Pelo contrário, devem estimulá-los a serem independentes e autônomos (por maior que seja o medo dos pais de verem seus filhos não mais dependerem deles).