Lendo as discussões sobre a trágica notícia do estupro de uma aluna da Faculdade de Medicina da USP, e tendo ouvido já alguns relatos semelhantes na prática clínica, deparo-me com os dados abaixo.
Em um estudo feito nos Estados Unidos envolvendo mais de 20 mil universitárias, uma em cada 20 (5%) relatou já ter sido estuprada. Quase três quartos delas relataram que o estupro ocorreu enquanto estavam alcoolizadas (1).
Arnold Kahn e cols. observaram que metade das mulheres que sofreram penetração contra a própria vontade não nomeia tais eventos como estupro, e com isso deixa de buscar ajuda médica e legal. Foram então indagadas sobre diversas situações fictícias de estupro e como as nomeariam. Uma das situações nas quais as mulheres mais optaram por não caracterizar como estupro envolvia a violência sexual com “uma mulher tão incapacitada pelo álcool (ou pelas drogas) que ela não tinha a consciência nem a habilidade de resistir ao homem” (2).
Na Inglaterra um estudo realizou análise de discurso de notícias envolvendo estupro e álcool em um jornal local. Verificaram que em geral os discursos refletem alguns chavões sociais, pois depreciam e deslegitimam a vítima, e perpetuam o que chamam de “rape myths”, insinuando que tais eventos são mais problemas atribuídos ao beber excessivo da mulher do que à violência masculina (3).
- Mohler-Kuo, M, Dowdall, GW, Koss, MP, Wechsler, H. Correlates of rape while intoxicated in a National sample of college women. Alcohol and Drugs 2004, 65(1).
- Kahn, AS, Jackson, J, Kully, C, Badger, K, Halvorsen, J. Calling it rape: differences in experiences of women who do or do not label their sexual assault as rape. Psychology of Women Quarterly 2003, 27:233-242.
- Meyer, A. Too drunk to say no. Binge drinking, rape and the Daily Mail. Feminist Media Studies, 10:1: 19-34