Nos últimos dias houve grande reação a favor e contra o comercial da marca O Boticário para o dia dos namorados, o qual exibia casais homo e heterossexuais trocando presentes. Diante de tamanho alvoroço, faz-se a pergunta do porquê da homofobia.
Pela concepção popular haveria dois motivos. O primeiro seria a ignorância, a falta de conhecimento empírico. O sujeito é homofóbico pois nunca conheceu nenhum gay, nenhuma lésbica, para que perceba que são pessoas normais. A segunda diz respeito à insegurança; segundo dito popular a homofobia seria um jeito de “exorcizar” os próprios desejos homossexuais.
A homofobia é um fenômeno complexo e não pode ser entendida sob uma única vertente. Mas a sabedoria popular não está tão longe assim do que acham os estudiosos da psicologia social.
Segundo alguns teóricos uma opinião pode ser vista como algo que tenha uma funcionalidade psicológica para um indivíduo. Ou seja, ter determinada opinião cumpre uma função para um determinado psiquismo. Tais funções seriam divididas em experimentais e expressivas.
As experimentais servem para que possamos prever prazer ou desprazer diante de uma experiência futura com base em um fato passado. Se fui a um dentista e tive uma sensação ruim e dolorosa terei uma opinião ruim a respeito de tratamento dentário; se a experiência foi boa ficarei com uma boa impressão e terei reações positivas diante de um encontro futuro. No caso da homofobia, pesquisa realizada nos Estados Unidos mostrou que a maioria dos americanos que tinha contato com gays e lésbicas tinha opiniões positivas sobre a homossexualidade. Ou seja, a homofobia de fato poderia se originar de ignorância, de falta de experiência. Desta forma, ter contato com homossexuais seria benéfico para se mudar tal concepção.
A segunda função da opinião é expressiva. Expressar uma opinião homofóbica tem um papel para o indivíduo, e expressá-la se torna em fim em si mesmo. Ajuda a a) identificar quem são as pessoas que emitem as opiniões, b) ajuda-as a serem aceitas por outras, e c) a não entrarem em contato com partes indesejáveis de si mesmas.
No primeiro caso a homofobia é uma parte importante da identidade da pessoa, do seu sistema de valores e a ajuda a saber quem ela é. Como no caso de um indivíduo que seja adepto ferrenho de determinado culto religioso que proíbe veementemente a homossexualidade. Tal religião é parte importante da identidade e do sistema de valores da pessoa, e expressar homofobia é reafirmar tanto a religião como a própria identidade.
No segundo caso a expressão de homofobia é feita para que determinado indivíduo seja aceito. A importância em ser aceito por outras pessoas faz com que indivíduos filiem-se a determinado grupo e repitam ideias homofóbicas comumente presentes na cultura.
Já no terceiro caso as opiniões homofóbicas servem como atitudes defensivas. Ou seja, diante de uma senso próprio de masculino ou feminino frágil, surge a homofobia como forma de projetar para fora as partes não desejadas (a feminina no homem e a masculina na mulher) e rejeitá-las. Reforçando o dito popular, tem a ver com a insegurança sexual do sujeito.
Diante do fato de que o país possui uma grande (e militante) população homossexual, e concebendo o Brasil como uma sociedade onde o machismo é muito presente, supõe-se que a homofobia é mais frequentemente reflexo de opiniões de função expressiva do que de caráter experimental. Por fim, triste é perceber a hipocrisia do fato de um comercial de pessoas se gostando docemente ter gerado tanta repulsa, enquanto que propagandas tacanhas de cerveja com silicone aqui e acolá aparecendo sejam tão bem recebidas.