Morreu no sábado, aos 86 anos, John Forbes Nash, prêmio Nobel de economia em 1994. Nash tinha esquizofrenia, e os ditos sintomas positivos, alucinações e delírios, foram o mote do filme “Uma Mente Brilhante”, no qual Russel Crowe retratou sua vida.
Quando dizemos “esquizofrenia”, o que comumente vem à mente das pessoas é a loucura em seu estado mais negativo. Frequentemente associam-se estereótipos como periculosidade, agressividade e imprevisibilidade à doença. Estes atributos negativos, no entanto, refletem uma grande injustiça com aqueles que portam o distúrbio. As causas principais para esta atribuição são duas, uma histórica e outra social.
A doença de Nash foi primeiramente descrita no século XIX, sendo popularizada por Emil Kraepelin sob a alcunha de dementia praecox. Mais tarde Eugen Bleuler trocaria este nome por esquizofrenia. Naquela época, sem intervenção farmacológica para o transtorno, o curso natural de grande parte dos pacientes era uma evolução com déficits cognitivos progressivos. Daí o nome de demência precoce. Não obstante, com o enorme avanço na psicofarmacologia e nas terapias, boa parte dos casos hoje em dia remite de seus sintomas, levando uma vida como qualquer outra pessoa. No entanto, a antiga imagem de “dementia praecox” ainda permeia o conceito da palavra esquizofrenia. Não só no público leigo mas muitas vezes também nos profissionais de saúde mental.
A segunda causa vem do medo da loucura. Fora de um contexto artístico, a loucura é proscrita. A perda de contato com a realidade é temida por boa parte dos mortais. Ela é então alegorizada na esquizofrenia, por causa de seus sintomas, e desta forma se mantém a loucura longe de nós. Como? Amedrontados, chamamos os indivíduos “sãos” de “nós” e denominamos aqueles com o diagnóstico como “eles”, cunhamo-los de perigosos, agressivos, e os afastamos de nós. Medo. (Mesmo em contextos artísticos muitas vezes a loucura é temida: quem gosta dos polêmicos filmes de David Lynch e Lars von Trier?)
Mas não é bem assim…
Não foi só Nash que teve “uma mente brilhante”. Pesquisando sobre o tema tive a felicidade de topar com um texto publicado em 2013 no The New York Times intitulado “Bem-sucedida e esquizofrênica”. A autora, Elyn Saks, conta nele que recebeu o diagnóstico de esquizofrenia há 30 anos atrás. Os médicos disseram que a doença era grave, tinha um prognóstico reservado, e que ela teria muita sorte se conseguisse qualquer tipo de emprego, por mais simples que fosse. Hoje ela é professora titular em uma universidade de direito nos Estados Unidos, além de ser professora adjunta no departamento de psiquiatria da Universidade da Califórnia. “Apesar de ter lutado contra o diagnóstico por muitos anos, acabei por aceitar que tenho esquizofrenia e que estaria em tratamento pelo resto da minha vida. De fato, tratamentos psicoterápicos e medicamentosos de excelência foram fundamentais para o meu sucesso. O que eu rejeitei foi o meu prognóstico”, conta ela no artigo. Pude conhecer Elyn Saks pessoalmente em uma palestra que fez em 2008 em um congresso de esquizofrenia e, diante de um público de mais de 200 pessoas, falou muito melhor que muitos dos outros palestrantes.
Assim, há que se ter mais compreensão, menos medo, e menos estigma com o diagnóstico.