A ideia inicial era boa: colocar uma dúzia de pessoas juntas em uma casa, sendo monitoradas 24 horas por dia, à disputa de um prêmio milionário. Fórmula importada de outros países que deu muito certo fora de nossas terras, ocasionando a crescente reinvenção da mesma ideia em diversos formatos na década passada.
Os apelos eram interessantes: o primeiro e mais óbvio, ao nosso controverso e recalcado lado voyeur. Se por um lado muitos se entregavam ao prazer de bisbilhotar pessoas estranhas em suas atividades do dia-a-dia, outros criticavam o programa justamente por esta exploração da privacidade alheia. Polêmica que dividia opiniões e acabava dando mais atratividade à disputa. O segundo apelo, talvez não tão óbvio, era feito ao desejo do telespectador por atenção e fama. Ao ver gente comum nas telas, transporta-se o tevente para a pele do participante do reality e por projeção e identificação aproveita um pouco sua fama e suas aventuras emocionais durante o programa. Quem assiste se identifica, torce e acaba se vendo um pouco nas telas. O terceiro apelo, nada óbvio, é à subjetividade. Correntes sociológicas entendem os meios de mídia como responsáveis por suprir necessidades dos indivíduos, seja por fornecer algo que não lhe é provido, seja por substituir algo que já têm. Pesquisas mostraram, por exemplo, que “quiz shows” eram mais assistidos pela classe trabalhadora, que tentava suprir a situação social adversa divertindo-se com a gincana que através do prêmio proporcionava ascensão social ao participante. Assim, o reality provê individuação ao legitimar traços nossos que passam desapercebidos em meio a uma cultura de massa, onde coisas são produzidas e consumidas em série, não ajudando processos de subjetivação. Como se o telespectador olhasse para seu participante favorito e pensasse que aquele comportamento, igual ao dele, espontâneo, individual e não maquinal, fosse válido, legítimo, digno da atenção e anuência de toda uma audiência.
Mas tudo isso se perde quando a repetição entra novamente em cena. Se o programa atraía seu público pela individualidade e espontaneidade de seus participantes, após mais de dez edições causa ojeriza justamente pelo seu oposto. Participantes artificiais, fissurados nos programas anteriores, sabendo de cor quem venceu, o por que venceu, quais as tramas que mais deram certo, quais os papéis com maiores chances de vencer. Comportamentos e reações assim planejados e arquitetados, banalizando as relações entre as pessoas, tudo pelo prêmio. Tentaram apelar mais para a privacidade, com cenas de nudez e de sexo mais frequentes. Mas geraram o efeito contrário, pois muitos perceberam ser uma tentativa barata e desesperada por audiência. Tentaram apelar então para a individualidade sendo vista na televisão, colocando mais gente comum no programa. O resultado foi que os mesmos estereótipos se repetiram. Caiu, de novo, na mesmice.
E assim fracassa o Big Brother, algo que de início era para ressaltar o privado e individual na televisão, e que por fim acabou caindo na repetição, na estereotipia e no caráter apelativo do programa.