A segunda-feira de fato foi complicada nas redes sociais, como havia comentado anteriormente. Após a reeleição continuamos assistindo à ira do eleitorado brasileiro na internet, tanto por parte dos que venceram como dos que perderam. Confesso que fiquei um pouco assustado com as coisas que li, não imaginando que opiniões tão lamentavelmente ofensivas e vorazes pudessem ser colocadas de maneira tão aberta e despudorada na rede.
Traçando um paralelo: na teoria de grupos há uma fase que se denomina de “luta e fuga”. Neste momento mecanismos de defesa mais agressivos são recrutados, no intuito de repelir o sentimento de perigo e ameaça que permeia e invade cada participante do grupo. Foi o que vimos antes das eleições: intensas manifestações de ódio, desqualificações rancorosas da opinião alheia, sarcasmos e distribuição de insultos a torto e a direito. As manifestações hostis não ficaram apenas no âmbito virtual, mas passaram também para as ruas, com discussões na Avenida Paulista e as pichações na sede da Abril.
Quando o grupo está em “luta e fuga”, além da agressividade mecanismos psicopáticos (como a mentira) e sentimentos de paranoia podem advir. Pois bem; não foram poucas as tentativas de ludibriar a população por parte de ambos os partidos e seus respectivos marqueteiros, com informações falsas sobre um e outro partido, sobre um e outro candidato, sobre um e outro governo. Campanhas que falavam mais de reputações do que de propostas não poderiam ter outro desfecho: a mentira invadiu os meios de comunicação, os debates televisivos e os smartphones Brasil afora. Por falar neles, a paranoia também tomou corpo com diversas teorias da conspiração, das mais plausíveis às mais fantásticas, veiculadas por Whatsapp, SMS e Messenger, tendo seu ápice poucos dias antes da batida de martelo.
Passada a “luta e fuga”, há dois destinos para o grupo: ou ele racha (quebra, se dissipa, desmonta), ou ele elabora. Após o resultado da disputa tenho visto muitos discursos pacificadores, conciliadores, demonstrando intenção legítima de elaboração, mas infelizmente muitos optaram por rachar o Brasil. Muitos dividiram o país entre “nós”, e “eles”, surgindo inclusive propostas de cindir o país em dois, incitando uma espécie de Farroupilha do século XXI. Ou seja, a agressividade permanece e agora toma forma de um discurso preconceituoso e intolerante.
Sinais de uma democracia ainda jovem e imatura, onde a política passou a fazer parte do cotidiano do grande público há poucas gerações. Nestes cenários infelizmente maniqueísmo, insensatez, intolerância e radicalismo costumam estar presentes, fazendo sumir a convivência razoável entre diferentes ideias.
Sinceramente espero que o empate técnico vencido pela presidente deixe de dividir patologicamente o Brasil, mas que, junto com a oposição que enfrentará no congresso, traga sim enormes dificuldades às políticas unipartidárias e de aparelhamento da máquina pública em busca de poder, fortalecendo desta maneira a real democracia.