Um amigo me recomendou um livro escrito por um americano sobre mercado editorial. Há algumas partes muito boas do texto, mas há também trechos maçantes, com “receitas de bolo” sobre o que se espera de um livro no gênero X e Y de ficção. Se por um lado os livros preparados nestes formatos de receita atingem comumente a lista de best-sellers, livros ditos mais literários e menos comerciais tendem a achar bem menos leitores.
Livros previsíveis, com linguagem mais simples e direta, vendem muito mais; palavra do autor. Pois a quantidade de leitores conservadores, que querem uma trama já esperada, sem imprevistos, de leitura fluida, é muito maior do que a de outros tipos de leitores.
E nisso a Cosac-Naify fechou.
A editora caracterizava-se por alto investimento em projetos editoriais caros, destinados principalmente a acadêmicos. Por exemplo: dos 21 livros finalistas do Premio São Paulo de Literatura deste ano, 4 eram da Cosac Naify. No Jabuti, dos 10 finalistas da categoria romance 2 eram da editora. Não querendo fundir-se a grandes grupos editorias, pervertendo o projeto inicial da editora para algo mais comercial, decidiram fechar as portas.
Não se trata aqui de dicotomizar; pichar as iniciativas comerciais e vangloriar projetos literários inovadores e de caráter artístico. Ou vice-versa: “aqueles ‘chatinhos’ enjoados daqueles intelectualóides e acadêmicos”. Pois, se dissesse que apenas vejo filmes e leio livros cults estaria mentindo. Segunda-feira mesmo assisti a conclusão de Jogos Vorazes (que achei por demais morna) e, sim, estou ansioso pelo Episódio VII (apesar de a franquia ter sido vendida para a Disney). Já com relação à literatura alguns livros comerciais me entediam. Com frequência os leio, mas quando exagero na dose acabo abandonando-os (abandonei, temporariamente, para surpresa de todos, um Stephen King). Precisamos deles, precisamos nos entreter, consumindo cultura comercial, leve, divertida, mas faz-se necessário também que de vez em quando pensemos fora da caixa. Assim, não me preocupa que livros da Cosac-Naify não atinjam a lista de best-sellers, pois não são feitos para isso. Não são feitos para uma leitura corriqueira. São livros que são reconhecidos pela crítica literária que premia. Preocupa-me não termos, em absoluto, mais livros da Cosac-Naify; preocupa-me o fato de cada vez termos menos opções como estas. Menos saídas para nos ventilarmos um pouco da cultura enlatada e repetitiva do comercial.
Como escritor, a pergunta inicial, sempre, ao se sentar para escrever um livro, é: escrever para inovar ou escrever para vender? Todos que estudaram um pouquinho sobre mercado editorial sabem que devemos fazer esta escolha a priori. Sempre falam de um sweet point entre o comercial e o literário, no sentido de ser um trabalho inovador que venda muito. Tais trabalhos são raríssimos. Os verdadeiros inovadores vendem muito pouco. E estes fecham editoras. E como fazer esta escolha quando os caminhos não-comerciais são cada vez mais parcos?
Escrevi antes neste blog que o Nobel de Literatura deste ano sequer tinha sido publicado no Brasil. Um país que sim, lê pouco, mas que é um enorme potencial mercadológico; em poucos anos a média de 1 livro lido per capita por ano subiu para 2,1. Mas adianta crescer com antolhos? Resta-nos, por fim, aprender russo para lermos ao menos os clássicos no original (e também o Nobel).