Quase 70 anos depois do uso do primeiro antidepressivo na prática clínica, o atual arsenal medicamentoso para combater a depressão é enorme. Apesar da grande maioria das pessoas serem tratadas com eficácia, há ainda um contingente de casos refratários, que respondem mal ou que tem muitos efeitos colaterais com as atuais opções. Se na década passada a pesquisa parecia ter exaurido a descoberta de novos tratamentos para a enfermidade, focando principalmente na serotonina como neurotransmissor alvo, nos últimos anos novos mecanismos fisiopatológicos da depressão foram desvendados, possibilitando o desenvolvimento de novas drogas.
A ALKS-5461 é uma droga em desenvolvimento pela Alkermes que tem como mecanismo de ação o bloqueio de receptores opióides kappa. Resultados de fase II têm sido bastante encorajadores, e ela também está sendo testada para o tratamento de dependência química. Um outro novo candidato é a Amitifadina. Após os primeiros tratamentos terem visado somente a serotonina, surgiram o que se chamam de anti-depressivos duais, com serotonina e noradrenalina como alvos. A Amitifadina seria um inibidor triplo de recaptação de neurotransmissor: serotonina, noradrenalina e dopamina. Outro inibidor triplo de recaptação ainda em fase inicial de estudo é a Ansofaxina, atualmente desenvolvida por uma empresa chinesa.
Importantes alvos farmacológicos para o tratamento da depressão descobertos recentemente são os receptores NMDA. Drogas como Rapastinel (Allergan), Apimostinel (Allergan) e a Esketamina (Janssen) encabeçam as linhas de pesquisa na área. A Esketamina em particular, uma droga de aplicação intranasal, tem tido resultados de fase III muito promissores. Agendado para este ano está o lançamento da Vortioxetina (Lundbeck) no Brasil, um antidepressivo com diversos mecanismos de ação sobre a transmissão de serotonina. Interessantemente, o Botox tem sido aventado como um outro potencial antidepressivo. A ideia seria que nossa expressão facial forneceria feedback ao cérebro sobre o nosso estado de ânimo; a intervenção em nossa feição poderia influenciar em distúrbios de humor. A aplicação de botox na glabela tem se mostrado eficaz em alguns estudos sobre depressão.
As drogas acima estão em fase final de estudo, e a única com lançamento confirmado para 2017 é a vortioxetina.
Além destes tratamentos farmacológicos, ganham corpo também as terapias não farmacológicas. Dentro da perspectiva translacional da neurociência, onde mente e cérebro fazem parte de um mesmo sistema, cada vez mais surgem estudos sobre a importância da psicoterapia, do exercício físico e de outras terapias. “Mindfulness”, uma técnica meditativa, por exemplo, tem ganhado bastante destaque nos periódicos científicos internacionais com resultados positivos significativos.
Vale lembrar, por fim, que os neurotransmissores que mais conhecemos até o momento são as aminas biogênicas: serotonina, noradrenalina e dopamina. Não obstante, elas são responsáveis por menos de 25% da comunicação entre os neurônios. O restante é feito por outras pequenas moléculas das quais ainda compreendemos muito pouco. Assim, sabemos apenas uma pequena parte sobre como todas estas medidas (farmacológicas e não-farmacológicas) funcionam no tratamento da depressão. O restante, ainda por ser desvendado, reserva um grande potencial para novas intervenções no combate a esta enfermidade, que atualmente afeta 350 milhões de pessoas em todo o mundo.