O brasileiro pessimista é assim: critica tudo. Insatisfeito por natureza, reclama daquilo que for possível. Reclama até dele mesmo, sem querer, se for o caso. Reclama da corrupção do país. Reclama dos políticos, dos ladrões, da bandalheira. Mas depois dá aquele jeitinho pra comer lugar na fila para ser atendido primeiro. Pega o waze para fugir da blitz. Faz aquele caixa dois “esperto” para não pagar imposto de renda. Não registra o funcionário na carteira pra pagar menos tributos.
O brasileiro pessimista reclama da copa. Fala que foi roubalheira, que não vai apoiar evento superfaturado, que o país não devia gastar bilhões com futebol sendo que falta dinheiro em tantas outras áreas. Mas depois vai desembestado atrás de ingresso, esgotando todos os lugares dos jogos de sua seleção. Lota estádios, bares, compra televisão nova, reúne os amigos, torce.
O brasileiro pessimista fala mal das olimpíadas. Fala que vai ter ataque terrorista, que vai dar tudo errado, que o Zika vai se espalhar pelo mundo, que o evento vai ser um fracasso. Aplaude quando os estrangeiros zombam das instalações da vila olímpica. Mas depois que a olimpíada começa torce como um condenado, grita, perde a voz, bate no peito e grita “sou brasileiro, com muito orgulho”. Adora quando a imprensa internacional elogia o evento.
O brasileiro pessimista vibra quando o americano diz que foi roubado no Rio. “Eu avisei….”, “segurança pública no Rio é um lixo”, “estava na cara que isso ia acontecer”. Mas depois, quando se descobre a farsa (sim, eles não são deuses, eles também mentem…), estampa sorriso altivo no rosto e fala “vem querer fazer malandragem com a gente, que ‘semo macaco véio’?” O brasileiro pessimista critica a seleção. Risca o nome do Neymar da camisa, faz piada, vaia o time na própria casa. Mas depois esquece de todos os problemas e grita “é campeão”, chora com o ouro, fala que o jogador mudou de patamar, enaltece o penta.
O brasileiro pessimista é uma espécie de Charlie Brown. Inseguro, crê que tudo sempre vai dar errado. Aceita o erro e a falha de antemão. Para se defender de expectativas eventualmente não correspondidas, opta por não ter nenhuma. Ou ainda, por esperar sempre o pior. Assim, o que vier, por menor que seja, é lucro. Mas se não vier, se der errado, ele em última instância estaria certo em suas previsões. O brasileiro pessimista é aquele do Tiririca que fala “pior do que está não dá pra ficar” (e no final das contas acabou ficando…). O brasileiro pessimista se vitimiza, reclama, e assiste a tudo passivamente, em uma posição de conformismo melancólico. Não obstante, esta posição de reclamão traz o conforto de o liberar da responsabilidade. Da responsabilidade de vencer, da responsabilidade de mudar a situação, da responsabilidade de esperar uma mudança, de fazer parte dela, de esperar algo melhor. Neste jogo de prós e contras, o brasileiro pessimista ganha ao desaguar sua eterna e humana insatisfação, e ao aceitar que as coisas são assim mesmo, o que o libera para fazer aquilo mesmo do que ele próprio reclama. Exime-se também de responsabilidade ao aceitar que ninguém ao seu redor se responsabiliza. Uma posição de baixas expectativas, o conforto da pouca exigência.
O brasileiro pessimista aparece quando um time perde um jogo por medo. O brasileiro pessimista aparece quando um atleta sucumbe à pressão e perde por nervosismo. O brasileiro pessimista aparece quando baixamos a cabeça diante da corrupção, do roubo, da desonestidade. Quando reclamamos mas nada fazemos, quando somos tolerantes a essas coisas. O brasileiro pessimista aparece quando aceitamos o olhar crítico da imprensa internacional, quase sempre disposto a menosprezar.
Enfim, comentários de que a olimpíada foi “surpreendentemente” boa só reforçam a ideia de que o brasileiro pessimista ainda anda por aí no imaginário popular. Só iremos mudar quando pararmos de aceitar esse papel, quando pararmos de nos vitimizar, e quando decidirmos acabar com o brasileiro pessimista para virarmos um país de verdade, com responsabilidades.