A TV senado nunca recebeu tanta audiência quanto neste domingo. Iniciada a votação na câmara, a vontade de boa parte dos brasileiros foi de deixar a audiência do canal voltar ao habitual quase zero. Um triste espetáculo circense tomou conta durante boas horas das principais emissoras de TV aberta do país. Houve cusparada; houve aquele que enalteceu a ditadura e seu carrasco; aquela que defendia o fim da corrupção teve o marido preso no dia seguinte pela Polícia Federal (adivinhem por qual motivo?); diversos agradeceram a Deus e exortaram a religião, alguns de maneira fanática (em um estado laico); os agradecimentos às próprias famílias foram inúmeros, viraram piada e memes na internet; alguns, inebriados pelo reflexo narcísico na lagoa de Eco, fizeram questão de enaltecer os tantos mil eleitores que os fizeram estar ali (alguém havia perguntado?). Enfim, o que todos sabiam se tornou escancarado, que na sua maioria não são políticos que têm seu interesse voltado para a população, mas sim sofistas, voltados à exortação do próprio ego. Este deprimente jogo de vaidades, cada qual falando de si, da própria família, de tantas baboseiras, já está batido, foi muito discutido esta semana, e já foi captado inclusive pela imprensa internacional. Mais um 7 a 1 para nos humilhar. Não humilhar quem ganhou ou quem perdeu, mas o país como um todo, ao se dar conta que quem cuida da nação é aquele amontoado de gente estranha. Nos poucos segundos que tinham para falar empregaram a histeria de discursos inflamados (por questão de higiene deveriam ter trocado o microfone a cada 5 deputados), e o julgamento do mérito da questão em pauta ficou de lado. Apelaram para a forma, para “encantar” a platéia, e esvaziaram o conteúdo. Poucos foram os que de fato empregaram uma justificativa lógica para seu voto. Era melhor falar da própria família. Ou de Deus, uma fala clichê angariadora de seguidores. Ou dos votos que recebeu. Hipocrisia.
Assim, com esse tipo de discurso e justificativa do voto, se a questão em julgamento já dividia opiniões entre leigos e juristas especialistas no assunto, a linha entre o certo e o errado ficou mais tênue ainda.
Golpe ou não? Não dá pra acreditar em ninguém. Pois este domingo escancarou o show de horrores que é a política brasileira, mostrando políticos de carreira que se interessam mais na manutenção dos próprios cargos e no bem estar das próprias famílias do que na população que os pôs lá. Uma classe distinta da população que despertou uma melancolia oriunda de uma crise de representatividade.
Consequência disso é que votação na verdade refletia as poucas opções do país. A primeira opção, de esquerda, seria deixar um governo incapaz de qualquer articulação prosseguir, um governo que perdeu as rédeas do país, que fez vistas grossas ao Petrolão, que sacrifica a economia em prol da manutenção do poder piorando a situação político-econômica do país. Caso não apetecesse esta escolha, havia a opção de direita, de acolher o pedido que um presidente da câmara com contas secretas na Suíça, alvo de processos no STF, encaminharia para o senado para outro réu em outros tantos processos, para tirar a presidente e colocar no poder outros tantos corruptos, réus, e acusados. Uma escolha do menos pior.
Será que neste circo de palhaços sofistas e corruptos o único honesto seria o palhaço de ofício? (Talvez nem ele, pois dizem as más línguas que ele esteve no hotel com o ex-presidente e na hora agá acabou votando contra a comadre deste.)
Nem esquerda, nem direita. Apenas honestidade. E para isso, renovação.