Você já ouviu falar dos Tigres de Libertação do Tamil Eelam? Poucos sabem quem eram. Os Tigres reivindicavam um estado independente no Sri Lanka. Eram bastante organizados e contavam inclusive com força aérea própria. Até 2009, quando foi extinto, o movimento, que se utilizava do terrorismo como tática de guerra, era o que mais matava pessoas no mundo através de homens-bomba. Mas poucos ficaram sabendo dos Tigres. Pois a guerra deles era travada no próprio solo oriental.
Por que conhecemos o Estado Islâmico e não os Tigres de Libertação? Porque eles são eficazes em uma coisa: em espalhar o terror em nossas casas, o ocidente. Com a ascensão dos movimentos extremistas islâmicos o terror invadiu os países do oeste e os números dos Tigres foram rapidamente sobrepujados pelos da Al-Qaeda, do Estado Islâmico e afins. Estima-se que, entre 1982 e meados de 2015, ao menos 5000 pessoas morreram vítimas de homens-bomba do Estado Islâmica. Pela Al-Qaeda este número é de 4800. E anteontem nova tragédia; ao menos 30 pessoas morreram vítimas de homens-bomba na Bélgica.
O ato terrorista cria medo, ansiedade, pânico em massa. Um estudo mostrou que três anos após um evento terrorista ocorrido nos Estados Unidos (Oklahoma), os níveis de pessoas com PTSD (transtorno de estresse pós-traumático) na população local eram muito maiores do que o esperado para outras populações. Tais níveis em geral são maiores até daqueles observados em regiões afetadas por tsunamis e outros desastres naturais. O ato terrorista envolve punição homem versus homem, e por isso gera feridas mais fundas. Envolve, assim, também o caráter vil e perverso do ser humano; perversidade e vileza estas ausentes na natureza.
Com isso, criam um sentimento de desesperança e impotência, que leva facilmente ao descrédito das autoridades locais. As pessoas sentem-se inseguras e julgam as autoridades locais como frágeis e incompetentes. Destroem assim o senso de segurança de uma sociedade, e provocam muitas vezes reações inadequadas e extremadas por parte dos cidadãos e das autoridades.
E é tudo isso que os terroristas querem. É por isso que para o terror a explosão de homens-bomba compensa.
Apesar do ato do suicídio de seus soldados parecer algo irracional, eles são uma opção estratégica para organizações terroristas que estão em enorme desvantagem militar em comparação àqueles que as atacam. Terroristas usam a “racionalidade da irracionalidade”. Ataques suicidas são mais eficazes do que outros tipos de terrorismo. Eles envolvem a arte do martírio, e assim convencem mais a população alvo de que ela está sendo punida. Como o suicida nada tem a perder, a mensagem é que o sacrifício da vida dele vale a pena pelo que estão lutando. Os homens-bomba são mais convincentes. Com isso, aumentam a credibilidade para novos ataques, que é o fator chave deste tipo de ato. O medo de que isso inevitavelmente vá ocorrer novamente a qualquer momento, em qualquer lugar. Lembrando o legendário Sun Tzu: “matar um, apavorar milhares”.
É muito importante que não se entre na onda dos terroristas, dando a eles o que eles querem, que é a discórdia e o ódio. Nestes momentos é muito comum o surgimento de super-direitas, (igualmente) radicais, como forma de reação. O agravamento da segregação, do ódio, da xenofobia. Responder com ódio ao ódio. O surgimento de Trumps e outros. O episódio do menino Ailan, jogado, morto na praia, escancarou bem este dilema há um tempo atrás. Fechar as fronteiras e deixar milhares serem mortos pelo mar, ou acolhê-los correndo o risco de matarmos os nossos próprios por terrorismo? Precisa-se de segurança sem que se comprometam as liberdades individuais. Precisa-se de vigilância e cautela, mas não de paralisia e paranoia. Estudos mostram que a melhor maneira de prevenir atos futuros é aumentar a segurança nacional; com parcimônia, sem ódio, sem xenofobia.
Os danos das mortes pelas explosões vão muito além daqueles que morreram nos atentados. É necessário que governo e população façam um esforço para que se contenha a onda de ódio, um contaminante que muito apraz os terroristas. É isso que os faz continuar explodindo gente no meio de gente.