De volta para o passado: a importância da passagem do tempo

delorean-back-to-the-futureFiquei impressionado com a repercussão nostálgica ontem do longa-metragem de 1985, estrelado por Michael J. Fox e Christopher Lloyd. Uma enxurrada de reportagens e posts sobre o que o filme previa nos dias de hoje, outros ainda mostrando protótipos de skates voadores e tênis automáticos (provando que sim, eles acertaram!), fotos de pessoas posando ao lado de DeLoreans em diversas partes do mundo, e até a Casa Branca declarou o “Back to the Future Day” em seu site.

“De volta para o futuro” fez parte da minha juventude nos anos 80, juntamente com Goonies, Curtindo a vida adoidado (“Oh yeah”, quem não se lembra daquela música?), e outros inúmeros filmes legais na época. E de fato é muito cômico pensar que ontem foi exatamente a data mostrada no filme de 30 anos atrás.

Mas se McFly viajou para o futuro, nós viajamos para o passado através deste túnel do tempo que o dia de ontem nos proporcionou.

Enquanto erros e acertos do filme ao predizer o futuro eram mostrados, certamente muitos (como eu) se transportaram para o passado, para a época em que ele foi filmado. Os anos 80 se passaram, e deixaram uma interminável lista de nomes que nos remetem a coisas guardadas com muito carinho em nossa memória (Kichute, He-man, Pogobol, Penélope Charmosa, Tartaruga Touché, etc, etc, etc…).

Para nosso psiquismo é vital que sintamos o passar do tempo. Devemos, além disso, fazê-lo de maneira saudável. Eugene Minkowski foi um psiquiatra francês que estudou a sensação da passagem do tempo em pessoas que sofriam de algum distúrbio psiquiátrico. Os ansiosos estão com a cabeça sempre no futuro; “presentificam” o que ainda está por vir, fazendo com que o amanhã sempre seja o hoje. Acabam assim por perder o hoje, e ficam sempre com a sensação de que não estão vivendo. Pessoas passando por melancolia, por sua vez, ligam-se muito ao passado. Acorrentadas aos fatos que já ocorreram, têm a sensação de que perderam algo. Culpa, arrependimento, remorso de algo que fizeram ou que deixaram de fazer, de algo que já foi, de algo que já aconteceu e que não pode mais ser mudado. Irremediável. A prisão que vive remetendo-as ao pretérito. Situação de maior sofrimento, ainda segundo Minkowski, seria a das psicoses, onde o tempo congela. Não se sente a passagem do tempo. Terrível sensação de experimentar a biografia turvada, uma vez que ela é uma identidade se desenrolando por uma linha de tempo. Sem este desenrolar borra-se a identidade, assim como a biografia.

A passagem proporcionada do tempo nos é essencial, ainda que muitas vezes queiramos fazer com que este pare, quando nos lazeres e momentos únicos de nossa existência, ou mesmo fazer com que ele se apresse, por ocasião dos desprazeres e de outros tantos momentos de infelicidade.

Trafegar nesta ponte temporal que “De volta para o futuro” possibilita é natural e necessário ao ser humano. Além disso, o sucesso do dia de ontem foi grande também por um charme específico do filme, o de apontar uma data exata para onde o DeLorean iria viajar. E, parafraseando os inúmeros posts de facebook, esta data chegou.

Celebremos Marty McFly, Dr. Emmett Brown e o DeLorean. Mas nos preparemos (sem ansiedade) também para Star Wars Episódio VII, que estreia em dezembro… (que é, aliás, outra série de filmes que estrearam nos anos 80; nostalgia?)