A jornalista e escritora bielorrussa Svetlana Alexievich, de 67 anos, foi a vencedora do Nobel de Literatura de 2015. Sua obra mais importante, que lhe impulsionou para o prêmio, chama-se “Voices from Chernobyl: The history of a nuclear disaster”. O livro não é uma ficção, e sim um documentário que levou mais de 10 anos para ser escrito. Além do feito do prêmio, Svetlana quebrou ainda um jejum de mais de 50 anos nos quais os laureados eram sempre autores de ficção. O último autor de não-ficção a ser contemplado havia sido Jean-Paul Sartre, em 1964, que recusou o prêmio (aliás, vale muito a pena ler a Carta de Sartre em que explica sua recusa; “All the honors he (the author) receives expose his readers to a pressure I do not consider desirable”).
Para escrever o livro de Chernobyl a autora entrevistou mais de 500 pessoas que testemunharam, direta ou indiretamente, o desastre. Em média Svetlana leva entre sete e dez anos para escrever um livro. Desta forma ela produz uma obra única, sensível, profunda. Não caracteriza seu trabalho como jornalístico, tampouco como histórico. “Eu não escrevo a história dos fatos, mas a história das almas”.
Encantado com esta descrição e com o estilo da escritora, fui procurar o livro nas livrarias brasileiras. Para meu espanto não achei nenhuma versão em português. Mais tarde fui descobrir que a agente literária da autora até entrou em contato com editoras brasileiras mas o negócio não andou pra frente.
Sim, livros premiados são difíceis de ler. Justamente por terem merecido um prêmio, não são mainstream. Apresentam ao leitor uma escrita diferente, sobressaem-se do lugar comum, do ordinário: são, sobretudo, arte. Como quando entramos em uma galeria de arte, não esperamos encontrar algo previsível mas sim o inusitado. Uma nova experiência (excetuando-se alguns movimentos que tornam-se inusitados justamente como questionar a arte como Duchamp e os readymades do dadaísmo, por exemplo). Livros premiados não apresentam uma história previsível, uma escrita fluida. Não são para serem consumidos. Ou seja: não vendem como água.
E talvez por isso não tenham interessado tanto as editoras brasileiras.
Não quero criticar os livros mais para o dia-a-dia; pois sim, vou aos cinemas assistir hollywoodianos que sei como vão terminar, me divirto com eles, e sim, leio best-sellers que correm aos olhos, me prendem e igualmente me divertem. Mas também leio os premiados; os últimos que li foram “Antiterapias”, de Jacques Fux, e “Anel de Vidro”, vencedores do Prêmio São Paulo de Literatura, e “O remorso de Baltazar Serapião”, vencedor do Prêmio José Saramago. Sim, difíceis de ler, não são livros que fluem muito, mas são de fato deliciosas experiências literárias. Inigualáveis em sua estética.
Enfim, em 2007 a média anual de livros lidos fora da escola por brasileiros foi de 1,3. Em 2011 quase que dobrou, pulando para 2,3 livros por ano. Ou seja, estamos lendo mais, felizmente. Mas isso não foi suficiente para entenderem que precisamos também da literatura como forma de arte. Talvez quando chegarmos perto dos 5 livros por ano (média de países como Inglaterra ou Estados Unidos) alguém se interesse em trazer Voices of Chernobyl para o país com a quinta maior população do mundo.