Dilma ou Aécio? Diga-me em quem votas e sofra minha ira

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” …há quem diga que o gigante acordou, tomou de 7 a 1, embolsou os 20 centavos e foi dormir de novo no sofá… “

Nestes tempos de discussões fervorosas sobre política, vêm à minha mente as sábias palavras de um antigo professor meu: “na sessão evite expressar sua opinião sobre política ou religião”. Lembro do caso de um residente que estava supervisionando que caiu sem querer nesta armadilha ao responder à delicada pergunta de uma paciente “em quem o senhor votou?” Ao responder descobriu que ela era militante radical do partido contrário. Aquela sessão foi perdida, pois consumiu-se por um sentimento de consternação, reprovação e até rancor da moça perante a atitude política do profissional.

Pois é, pode parecer estranho, mas ativismo político tem bastante a ver com raiva.

Ao longo dos últimos dias surgiram inúmeras discussões calorosas nas redes sociais, colunas de jornais e blogs inflamados apontando os lados podres de um e de outro candidato, e pessoas bastante exaltadas e até evitando de ler as discussões virtuais para não se irritarem ou mesmo para não perderem a amizade.

Mas pra que tanta exaltação companheiro?

Um cidadão se sente mais propenso a participar de discussões políticas quando acredita que suas ações e palavras podem fazer alguma diferença. O engajamento político depende de dois fatores: eficácia interna, e eficácia externa. Na eficácia interna a pessoa se considera competente para interpretar o cenário político e influente sobre o mesmo. Por eficácia externa a pessoa acredita ser o sistema responsivo às suas opiniões e ações.

Ante a ameaça de mudanças políticas indesejáveis, o indivíduo pode reagir de duas maneiras: com medo ou com raiva. No entanto, quanto mais confiança em suas próprias avaliações ele tiver, e quanto mais influente ele se achar (eficácia interna), maior a possibilidade de um desfecho raivoso. E provou-se que a raiva, por sua vez, é um importante fator associado à proatividade e engajamento políticos.

Assim, as “Manifestações dos 20 centavos” do ano passado foram reflexo da saturação popular ante as incongruências políticas do país e foram também força motriz para fortalecer na sociedade a autoconfiança e o já presente sentimento de reinvindicação, reforçando assim a eficácia interna. Passadas as manifestações os ânimos se acalmaram e ficaram latentes para voltarem novamente à tona neste embate entre PSDB e PT. O que vemos hoje em dia pode ser interpretado em parte como resultado de um descontentamento antigo que ganhou força ano passado, aumentou a consistência interna da sociedade, e acaba hoje por expressa-se através de ataques raivosos de ambos os lados.

As manifestações marcaram assim um desejo de mudança e renovação e deixam sua marca ainda hoje. Não obstante, há quem diga que o gigante acordou, tomou de 7 a 1, embolsou os 20 centavos e foi dormir de novo no sofá, já que a antiga dicotomia PT-PSDB se manteve mais uma vez.

 

1. Valentino NA, Gregorowicz K, Groenendyk EW. Efficacy, emotions and the habit of participation. Polit Behav 2009, 31:307-330.